sexta-feira, 20 de dezembro de 2013


Eu sei que tenho essa coisa repetitiva de ficar te comparando com o mar. Mas é que ele sempre foi o que tiver de mais próximo da felicidade pura e genuína. Eu sentava na frente dele, olhava bem pro horizonte; até me sentir insignificante e absorvia toda aquela vibração contagiante. Era inundada de felicidade sem mais porquê.
Eu não sabia que era capaz de ver o mar em uma pessoa desta forma. Já comparei outras pessoas com certas características dele mas nenhuma era parecida em sua totalidade.
Olhando nos seus olhos eu posso ver o horizonte e me sentir insignificante e gigantesca ao mesmo tempo. Dormindo nos teus braços eu tenho o acolhimento do sol. Acordar e ter você ali, do meu lado, é a minha maresia. E eu conto aflita os dias pra voltar pras ruas com cheiro de sal. Pra colocar outra vez os pés na areia. Me deixar levar pelas ondas. Eu não vejo a hora de experimentar a viagem e me mudar de vez pro litoral. Num pra sempre convicto e de fato sem fim.
Sabe de uma coisa? Você não é só o mar, é a praia inteira. É o vendedor dos meus camarões. É o guarda sol. É a água gelada, o calor escaldante. É a solução da minha doença física. É o conforto da minha bagunça psíquica. Você é casas com portão de alumínio, biquíni, rosto queimado. Minha segurança, meu relaxo, a beleza estampada no meu rosto. Você é o dia de praia mais ensolarado de toda a minha vida. E nem que caia uma tempestade na minha festa -nem assim!- vou querer arredar o pé da sua beira.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Eu era erro e depois virei dois.
Eu me tornei encontro. Me joguei no meu primeiro e único querer.
E agora pro mundo eu não sou nem eu e nem dois.
Eu sou covarde e guardo tudo pra mim.
Eu sou esconderijo. Errando por vício de errar. Me escondendo da vida.
Tramando não me estrepar demais.
Sempre tramando.
E me ferindo por não ser eu.
Nem eu nem nós.
Nem nós pra poder ser só eu.
Sendo só poeira.
Sendo previsível.
Insignificantemente óbvia.
Traiçoeiramente contada.
Como quem conta com o dinheiro que vai sobrar e ele não sobra. Como quem confia no marido e se fode. Sou contada por todos os lados.
E não dou no final do mês.
E traio a confiança da minha esposa.
Ilusão maldita de liberdade.
Açoites invisíveis de culpa.
Rasgando a carne até abrir a brecha pra ver meus erros.
Rir das minhas histórias.
Aquelas que ninguém ouve.
Todas das quais ninguém quer saber.
Por onde o encontro me encobriu, feito duro casco de tartaruga. Inquebrável.
Entalhado de tão bonito e que mesmo assim eu escondo por baixo da roupa.
Talvez por ser bem mais bonito que eu. Por ter tanto mais a contar.
Invejo o que me veste hoje porque nunca tive atenção pra minha própria roupagem.
De tão transparente que fui a vida inteira.
Ironia ser junção tão colorida e as vezes me sentir  extremamente diminuta.

Vai saber que esquizofrenia é essa que me acompanha...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dentro

Das paredes escorrem amarguras
O assoalho grita abandono
Bocas murmuram, pés se arrastam
As mãos movem-se a esmo, ou amparam a cabeça já pesada
Ouve-se uma Ave-Maria esganiçada, em voz quase gritada, que é um pedido de socorro.
As árvores a tudo observam como se perguntassem "que passa à essa gente?"
O brilho verde estonteante nas folhas da copa, destoa do cinza que margeia os corpos
Nada aqui lhes pertence, a não ser a solidão
Nenhum trapo, sapato, espaço particular, rastro de indivíduo
Tudo é público, o sofrimento, coletivo.
Os gritos se misturam, as dores se assemelham
As horas rastejam acompanhando o ritmo do caminhar
Sorrisos derretidos no cansaço que estampa a face
A vontade de sair dói o peito, mas a insegurança do estar do lado de fora também é imensa e dolorida.

Cá os medos humanos estão todos feito fratura exposta, ferida aberta.
Estão todos na mesma corda bamba.
Que será a lucidez e a loucura?
Essas coisas finas, delicadas, que se perdem e se encontram assim sem porquê.
O que coloca alguém um passo a frente da linha tênue onde uma começa e a outra termina?
Escancara fragilidades e em menos de um segundo, torna o ser perdido, ambulante, enfermo.

Aqui as esperanças são maltratadas e tratadas como mera ilusão. Só mais uma alucinação dentre as tantas outras que assombram e permeiam as almas confinadas.
Aqui os bons sentimentos receiam entrar.
Sobretudo porque precisam de transporte, e esse só se faz por intervenção humana.
E é difícil...

O vento que refresca também traz as lembranças de um outro tempo.
Se existiu de verdade, quem há de saber?!
Mas ainda há lembrança, os resquícios de uma vida em que muros não sufocavam e as camas não prendiam.
A água era mais fresca, as cores tinham sentido e até o sol era sentido mais acolhedor e quente.
Onde árvores admiravam a paisagem e dela eram parte, ao invés de questionar: "que passa a essa gente?".

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

É difícil ser protagonista

Trouxe para a minha vida como regra principal a seguinte meta: ser uma pessoa melhor. Isso não quer dizer que eu seja, mas eu tento, árdua e diariamente. Só que tem um probleminha nesta tarefa: as pessoas. Sou como o mocinho do filme que não cansa nunca de fazer a coisa certa e acabar levando a pior. Já repararam como a protagonista sofre a novela inteira? Pois é. Só no final é que eu vou ser recompensada. Por enquanto, vou levando uns tombos aqui e ali.
O prejuízo maior é a decepção. Essa coisa amarga que vai descendo pela garganta, dá um nó no pulmão e faz pesar o estômago. É dela que eu vim falar hoje.
Não é a primeira vez que me decepciono. Não é a primeira vez que choro ou que sinto vontade de esmurrar a cara de alguém e a minha própria, por ser tão boba. Estendi a mão mais uma vez e ao chegar ao topo, o vilão me empurrou, fazendo com que eu me esborrachasse lá em baixo. O caso é que desta vez eu me dei conta da quantidade de vezes em que isso aconteceu. Foram muitas. 
O mais triste é que ninguém me enganou. Eu vi uma pessoa com falhas, perdida e sozinha. Pensei que com os meus superpoderes conselhos poderia trazer algum benefício, uma ajuda, ou só um consolo. Bom, no final o meu empenho não serviu para absolutamente nada. Mais uma vez. Eu fui destruída por quem amei e tentei a todo custo auxiliar. Me doei, me expus, corri contra o tempo e amanheci em claro. E agora dói, a exposição se tornou ferida aberta, o tempo foi jogado fora e a insônia dos dias me tirou o que antes sustentava o corpo: a esperança.
Mas é só um desabafo. Esta febre do ódio, a raiva, o ressentimento, eu não quero nada disso. Quero esquecer da crueldade gratuita, quem triturou a mão que estendi. Porque eu só estou querendo ser uma pessoa melhor. E vou conseguir. Quer saber? Vou continuar acreditando nas pessoas. Vou ajudar quantos mais vierem me procurar. Vou ser passada pra trás, pisoteada e o escambau. Depois, vou chorar, ficar magoada, me sentir estúpida, traída, ingênua. Mas no fim das contas, quando tudo passar, vou estar feliz e tranquila. Porque fiz a minha parte. Porque não fui egoísta, oportunista ou má. Não vou trazer culpa e nem carregar bagagens ruins. Eu não vou ser quem maltratou. 
Quando a minha novela acabar o autor me escreverá um belo final. Vou me casar com o mocinho, vou ficar rica, quem sabe? Mas, principalmente: vou ter a tão sonhada paz.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

ass: sentimental

Se me permite, tenho que palpitar sobre essa sua mania de ser tão analítica. Não vive um só momento sem chegar ao meio com seus questionamentos perturbando a minha diversão. Vive com um pé atrás, com medo de se entregar... Eu não entendo. Também não sei como podemos viver dentro de um mesmo corpo sendo você tão diferente. Chega a ser grossa. Não derrama uma lágrima, não perde o fôlego, nem solta o riso.
Dura. Feito pedra ranzinza esquecida por todo mundo.
Achei a definição perfeita pra você! Pedra! Aliás, que função tem uma pedra? Entrar no sapato? Incomoda, atrapalha, obstrui. E se lançada com muita força pode ferir. É desconfortável, não da pra apertar e ta sempre com o mesmo jeito entediado e estático.
E é assim que você se comporta. Prática, observadora, insensível e objetivamente chata.
Eu que sou romântica, fico espremida e só posso dar uma espiadela no mundo nos seus acessos de criatividade. Porque aí pra você, nas suas palavras, não soa tão patético. Mais arte do que sentimento.
Fico louca e quase sufocada pra poder dizer certas coisas, demonstrar o que sinto e o que penso, e o máximo que consigo é um poema, uma música. E aí a insuportável faz o quê? Esconde das pessoas! Não é mole...
Às vezes você me deixa ouvir músicas que falam de amor. Às vezes posso ver filmes de romance. Mas se me distraio te vejo mostrando a língua ou torcendo o nariz pra certas declarações. Eu gosto. Você detesta. Paciência...
Uma coisa eu tenho como trunfo: você é terrivelmente esquecida! Se perde no meio de nós e esquece de controlar tudo... E aí eu me divirto! Fico cantarolando, danço no meio da rua e gargalho alto. Quando você percebe já é tarde demais...
Nessa constante troca de dividir as rédeas da nossa vida, seguimos confundindo o que e quem nos cerca. Pra nossa sorte, achamos alguém que se diverte e ama todos os primas desse inteiro. E ela é assunto que causa unanimidade por estes corredores bagunçados.
Nisso nós concordamos: que sorte...

domingo, 28 de julho de 2013






Somos como a mudança do dia para a noite.
Distingui-se bem o laranja do azul nas extremidades.
Porém se misturam no meio de tal forma que não dá pra dizer com precisão onde um começa e o outro termina.



Na ânsia de ser quem sou, acabo sendo tantas que estas tantas falam por mim aos tropeços.
Gritam juntas, se atropelam e confundem a mente alheia.
Muitas vezes sequer querem ser ouvidas. Apenas notadas.

Ponte

Chega um dia em que a gente deixa de rir por qualquer coisa. Uma dança desengonçada, um palhaço que mais cai do que anda e sons esquisitos não nos arrancam mais sorrisos.
Deixamos de ver magia em pessoas fantasiadas, material reciclável não mais nos distrai e os desenhos animados não são tão interessantes.
Queria saber qual o exato momento em que começamos a nos enxergar. Sim porque, quando somos crianças, a alma está dentro do corpo e não se vê. Fazemos caretas, choramos escandalosamente e nos sujamos completamente. Sem nos importarmos com o local, as pessoas, com o que vão pensar...
Entramos num restaurante de luxo cobertos de barro sem o menor problema.
Somos escancaradamente felizes, sem pensar com que cara essa felicidade irá nos deixar.
Queria saber quando é que a gente deixa de correr sorrindo.
Quando para de abraçar os familiares sem motivo.
Quando não mais sorri ao se olhar no espelho.
A linha tênue entre:
- Só mais um pouquinho?
e
- Estou atrasado.

Olho



Uns dizem que sou o cão chupando manga.
Outros, um copo de suco de manga gelado em um dia ensolarado.
Pra uma parte sou a inconveniente manga comprida no verão.
Pra outra, a própria sombra da mangueira.

O que eu sou ninguém sabe.
Apenas uma conclusão:
O que determina é o olho que vê.

terça-feira, 16 de julho de 2013

De quem tem medo do escuro

Quando eu te abraço todas as luzes se apagam.
A angústia vira paz. A tristeza, calmaria. O desespero é inundado pelo amor.
Achei meu lugar no mundo, meu lar.
Onde me sinto confortável e tranquila. Onde posso respirar e suspirar, fugir e me encontrar.
Um espaço aonde eu posso ser só um ser só, mas que encontrou seu pouso.
Você se transformou na minha casa.
Eu não preciso mais de paredes, teto ou chão. Apenas dos teus braços, olhar e colo. Eles me bastam.
Pra esperar as tempestades passarem, descansar a euforia dos dias em que transbordei felicidade, ou somente sentir o teu cheiro e confirmar que não há melhor no mundo.
E também não há outro lugar onde eu queira estar.
Me basta você.
E eu posso fechar os olhos e saber que tudo vai ficar bem.
Meu poço de confiança e amparo.
É tanta a certeza de que eu estarei a salvo,
que quando eu te abraço, todas as luzes se apagam.

E não existe medo algum.

segunda-feira, 15 de julho de 2013



"Ela é tão linda! Não me canso de olhar pra ela. Não me preocupo se ela é mais inteligente do que eu: sei que é. É engraçada sem nunca ser má. Eu a amo. Sou muito sortudo por amá-la."

— A Culpa é das Estrelas.


Eu e o João



João-de-barro, que tem esse jeito manso, leve e poético, também é ciumento possessivo. Sufoca com carinho e quer que o seu bem fique sempre no ninho, quietinho.
Quando se ama, a tendência é agir como ele, e guardar num coração de barro a sete chaves a pessoa amada. Mas é necessário conter o ímpeto para que algo tão valioso não venha a morrer sem ar.
Expliquei ao meu amigo, volátil apaixonado, que não é assim que se faz.
Sei que parece clichê, mas veja só, tem gente que ainda não conseguiu captar.
Deixar um amor livre (ainda) é a melhor maneira de fazer com que ele queira ficar.

domingo, 14 de julho de 2013

Gota d'água

Ele pisou duro no chão, prometendo a si mesmo nunca mais voltar aquele lugar. Seus passos eram tão difíceis de ser dados, que era como se carregasse chumbo: O peso da amargura.
Anos e anos de decepções agora eram digeridos da pior forma.
Caminhou como numa marcha fúnebre, rumo a um hotel qualquer do centro daquela cidade suja. Todo o cenário era por ele ignorado. As pessoas ao redor não passavam de borrões distorcidos.
Ao chegar no quarto, olhou-se no espelho. As pálpebras pesadas caíam, como se implorassem para se fechar de uma vez por todas. Os cabelos já não faziam questão de se manter organizados. Eram pincelados pelo branco que sinalizava todas as estações que viu passar.
Todos que haviam o ferido estavam presentes nele. Em cada uma daquelas rugas.
Lavou o rosto com raiva, como que para expulsá-los. Queria que suas marcas fossem apenas obra do tempo e não reflexo de dor. Porém não era possível.
Colocou na mala cada 'não' que já havia ouvido e todas as vezes que o fizeram de otário.
Não chorou, não mais.
Ergueu a cabeça, ciente de que aquele ponto final era definitivo.
Sem retorno, não desta vez.
Deixou o hotel com andar decidido. Foi até a sua antiga casa.
Viu nas paredes manchadas tudo o que fazia força para esquecer. Corredores inundados por antigas mágoas, maçanetas que ainda esperavam por alguém que não viria.
Perambulou pelos cômodos vazios pela última vez, e saiu.

Enterrou no quintal, a sete palmos do orgulho, tudo o que um dia foi capaz de amar.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Eu e você pra sempre

A ansiedade me faz querer gritar. As meninas que me ajudaram quando me vesti, tentam fazer com que eu fique calma. É inútil. Ando de um lado pro outro, pensando se todos os detalhes estão prontos. Tento cantar. Paro. Recomeço. Ando outra vez. Me deixam sozinha.
Começo a me lembrar da primeira vez em que te vi. Quando senti todas as células do meu corpo se aquecendo. Meus olhos sendo roubados pelos seus. Cada gesto me conquistando aos poucos. O dia em que você me beijou. Quando me pediu em namoro e eu não respondi. Quando disse que se apaixonou e eu respondi que já sabia. Como eu fui amando cada detalhe seu. Te admirando cada vez mais. Me lembrei dos nossos aniversários, dos apertos, dos dias felizes e das barras mais pesadas. As conquistas e as lágrimas que dividimos. Os dias exaustivos que eram esquecidos ao te ver. O suspiro que me aliviou desde a primeira vez que segurou a minha mão e disse que estaria comigo pra sempre.
Minhas lembranças são interrompidas por batidas leves na porta. Chegou a hora.
Tudo é exatamente como eu sempre sonhei. As flores são brancas e vermelhas. O vestido é aquele que eu escolhi quando ainda tinha 17, vendo aquele programa que era um dos meus favoritos. Branco. Uso batom vermelho e estou radiante, emitindo raios ultra-felizes ao sorrir.
Agradeço mentalmente por ter escolhido um local aberto. A espera me faz delirar. Um local fechado não comportaria tamanha felicidade. Todos que nos amam estão ali. Eu não consigo chorar, apenas rir, até sentir a mandíbula doer.
Então eu te vejo, esperando por mim. Carregando lágrimas de extrema felicidade, já com as bochechas vermelhas de tanto chorar. Rio pensando que já imaginava que seria assim. Soube que seria eu a sua interrogação desde o início. E caminho até você, a pessoa mais linda deste mundo. Rumo ao primeiro dia do resto de nossas vidas.
Quando finalmente é declarado, eu e você pra sempre, nos beijamos. Sorrimos e nos olhamos por segundos que parecem uma eternidade. Um vislumbre de tudo o que passou e virá.
Vou até os músicos. Vou tocar pra você, como sonhado e prometido anos atrás. Mais lágrimas e sorrisos. Você não aguenta e vai até mim.
Depois da festa, de comemorar com os nossos amigos, pegamos o carro e a estrada. Estamos indo para algum lugar ensolarado, cantando à plenos pulmões.
Agora somos um só ser, porém 200%, como você sempre disse.
Em mais uma existência.
Queria ser atriz, pra aproveitar a deixa do meu nome. Mas se não tenho nem coragem pra falar com uma só pessoa, imagina uma platéia.
Queria cantar alto, e queria também que a minha voz fosse ouvida de longe. Forte, aguda, incisiva. Mas só consigo ser mansa. Chegar devagar.
Queria dançar marcando bem cada passo. E rodar como peão, crianças num carrossel, roda gigante. Mas eu fico tonta só de imaginar.
Queria cozinhar como um chef do El Bulli. Saber de cor receitas.
Memórias,
Todas as canções e acordes,
Lembretes.
Queria te olhar nos olhos pelo tempo que quisesse. Quando posso, não consigo. Quando quero, não mais posso.
Queria te guardar no coração como quem guarda relíquias em um baú. E ter as suas cores em escala. Pintar toda uma casa com elas.
Queria te escrever os mais belos poemas. E compor as melodias mais inesquecíveis.
Mas eu sou somente uma menina. Nem atriz, nem cantora, nem dançarina.
Eu não me lembro de nada.
Escondo-me em notas e letras.
Sussurro e sempre, sempre tenho medo.
Não me entendo, caio, me perco. Fico querendo ser de outra forma.
Queria extrair de você um pouquinho dessa poesia.
E ser mais leve, pra poder viver integralmente tudo o que me proporciona.
Me permitir respirar bem fundo essa felicidade.
Deixar que me falte o ar.
Quando você sai, me pergunto se te amo.

Quando volta eu não sei como pude duvidar.

domingo, 26 de maio de 2013

Três

Eu sempre tive dificuldades pra me expressar. Falar sempre foi um problema, eu preferia entrar embaixo de qualquer mesa. Minha solução foi escrever. Sou completa no papel, é possível me ler por inteira. Mas você me deu o primeiro bloqueio da minha vida. Eu não entendi; mas não sabia falar sobre você. Não sei dizer se era medo de mensurar. Se tive o cuidado de não olhar, mas foi assim. Me engasguei com as palavras que você me causou.
Hoje a falta do seu abraço em um momento de desespero, e juntamente com isso a consciência do seu apoio mesmo que de longe, me aliviaram a respiração. Quero falar de você. Que me preenche o ser, me alimenta o coração. Eu não sei mais o que seria de mim sem a sua presença. Eu sou um ser confuso, meio duro com os sentimentais. Sempre fui assim,a vida me fez assim, eu só podia ser assim. Às vezes tropeço em mim, me canso de você e te quero a todo instante, uma bagunça emocional generalizada... Sou assim mesmo. 
Eu ouvi uma coisa engraçada: "Seus olhos brilharam por causa dela né, lindinha?" E só pude rir e concordar com a cabeça. Meus olhos brilharam outra vez nesse momento. Até quem não estava perto sabe. Você desperta a felicidade em mim. E é isso, descobri que na verdade eu não preciso dizer mais nada. Eu amo você.

sábado, 25 de maio de 2013

Receita de mim

Acho que eu não sou pessoa de ser levada a sério
Sou de se observar e sorrir
Assim como eu observo o mundo à minha volta e sorrio pra ele
Entender me basta
Não me segure com muita força, mas me deixe saber que não estou sozinha
Sou alérgica a exageros
Gosto da leveza dos passos
Eu me confundo e nunca sei me decidir
Tenho reações inusitadas
Não espere de mim obviedade
Esta só existe pra mim, que olho de dentro
Não me apresse, nem me pressione
Quanto mais no chão querem me colocar, mais aérea eu fico
E quanto mais ilusões me derem, mais fácil fica enxergar a realidade
Sou cheia de manias
Tenho medo de escuro. Mesmo. Não tente mudar isso. Não há mão segurando a minha que diminua o pavor.
Gosto dos detalhes e, principalmente, de não alardeá-los
Vou exigir muito de mim, não importa a circunstância
Não vou saber te dizer exatamente o que fazer
Sei que ainda vai chegar o dia em que você não vai me suportar por alguns instantes
Mas também sei que a sua percepção vale por qualquer medo
Mania
Detalhe
Auto-crítica.
É que eu tenho tantas em mim que leva tempo pra administrar
Não sou tão difícil de conduzir
Basta observar
E sorrir
Me lembre que me ama como quem me lembra que esqueci de tomar remédios.

sábado, 11 de maio de 2013

Posso parar, tomar fôlego, chorar, descansar de tantas tentativas. Isso eu posso. Desistir não é uma opção.

segunda-feira, 6 de maio de 2013


- Vamos dançar?


- Vamos!


- Tô falando sério, é um convite oficial para uma dança.


- Vamos dançar agora?


- Agora, depois, depois e sempre!


- Então eu topo!

Pra quem quis final feliz

Eu tinha em mãos uma história perfeita, digna de orgulho. Tão bem entalhada, bem colocada, com todos os elementos agradáveis que se deve ter. Achei graça. Vi a proporção que aquilo tomou, analisei bem de perto e me deixei levar. Eu nunca havia sido tão feliz, eu estava como queria e devia estar e tudo era milimetricamente dentro do limite, como nunca foi, eu finalmente era um molde maravilhoso. Acho que era isso que me deixava tão feliz. Mas a vida é essa coisa maluca, que sai atropelando a gente e não se importa se vai arrastar coisas pelo caminho. E eu me vi colocando um fim naquilo que sofria só de pensar que poderia acabar. Não fui forçada, não me desesperei. Senti que tinha que ser assim, aquilo não cabia na minha vida. E aí já não sabia se me sentia aliviada ou profundamente triste. Eu havia acabado com o momento mais correto e estável da minha vida.
Entende? Percebe o erro de viver algo correto e estável? Eu não sei ser assim. Cada célula do meu corpo denuncia a minha discrepância, o tempo todo. Fui arremessada pra onde eu sempre quis estar. Sempre, sempre. Mas parecia tão errado que eu queria pelo menos uma vez tentar ser como todo mundo queria que eu fosse. Não vou dizer que não foi legal. Foi incrível. Mas não tem nada a ver comigo. Talvez tenha, e num outro momento eu queira voltar a esse ponto da vida, é aí que ta: Foda-se. O que importa mesmo é deixar estar. E no momento estamos aqui, eu e você. Sendo as pessoas mais erradas, juntas, vivendo uma felicidade quase clandestina. Não é fácil, pode me pesar as costas as vezes por ter que ser assim. Mas tudo bem, sendo algo tão sublime, decerto teria um preço a se pagar. E eu pago. Pago pra ver. Dou a cara a tapa. Vamos quebrar todas as regras, suas de não se deixar dominar e minhas de ouvir as bobagens nas quais me fizeram acreditar. Vou experimentar como é seguir as minhas vontades, sem dar a mínima pro resto, eles sequer precisam saber. Me viver, inteira, sem esconder nenhum pedacinho, eu sou livre, ora essa! E seja o que Deus quiser. Vamos ver até onde vai. Vamos fazer o que der na telha.
Se nada der certo,
casamos semana que vem.

- I like girls.


- I know it! For this reason I think: we are made for each other, we like the same things!


- Ooohh yes!
  Wonderful logic.

Vôo

Me acostumei a gostar de você.
Era como ter todas as minhas, até então certezas, enraizadas
Ter você sempre presente era cômodo, você me preenchia um espaço vazio
Sentir a sua falta e me alimentar das suas lembranças, dia após dia, me tirava da beira de um colapso visível
Eu sempre tive medo de me enxergar, olhar pra dentro de mim
Você me fez bem, me trouxe dias de sol e memórias vibrantes e vivas.
Um colorido diferente, uma diversão suspensa, solta
Me despertou coisas diversas, que eu nem sabia nomear.
No tempo em que passei longe daquilo que a sua presença me causava, eu senti o vazio do sentimento que existia mesmo sem ser definido
Voltar, admitir e encarar o passado que se construiu foi quase tão dolorido quanto te deixar.
Mas dessa vez foi você quem deu as costas e disse a última palavra.
Não foram lágrimas por você.
Todo fim é triste.
Mesmo sendo o nosso tão eminente e palpável.
Leve os dias pra eu construir outros, de outras cores
Chega de ser feliz ou triste por comodidade.
Agora que acabou estarei livre pra recomeçar.
Posso voar sem qualquer peso.
E vou.



(Pra minha irmã.)
- O que você tem, baby?

- Quero vomitar a minha vida.

- Sentido literal ou metáfora?

- Os dois. A metáfora faz com que se torne literal.

- Amo liberdade poética.

Amanhã

O telefone da sala continua tocando
Tem fumaça e o seu hálito fresco impregnados na minha memória
Tudo em mim são restos
Algum objeto no chão do carro que eu não consigo identificar
Meu pensamento está sempre distante
Tenta decidir onde quer ficar, que lembranças sorver
Meu queixo e aqueles ombros
Uma visão quase entorpecente
Mas me lembro do calor no meu pescoço, o delírio
E não sei de que lado da realidade quero ficar
Os discos estão espalhados pelo chão
Ouvi suas músicas até me esquecer de mim
Sou feita de resquícios de dias e noites
Que foram tão intensos e sublimes que me fazem duvidar da minha lucidez
Mas são divididos em dois
E sairão arrastando pedaços
Qualquer que seja a decisão
Serão planos desfeitos, detalhes quebrados irreparavelmente
Deixo o telefone tocar e adio o inevitável
Assisto o tempo se esvaindo
São horas soltas
Já perdi sem contestar
O amanhã vai ser só um, com cara de meio
Covarde e egoísta,
Eu sei.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Não consigo imaginar a gente dando certo

Sempre deixei a minha imaginação fazer o que quisesse, fazer estragos, instalar o caos dentro de mim. Me atirava em fantasias por dias inteiros, eu nunca tive medo, sabia sair. Já me machuquei bastante nessa brincadeira de inventar por dentro até sentir como se estivesse vivendo. Quando ia mais fundo, abrir os olhos pro presente me dava um choque. Mas de alguma forma eu retomava a consciência, meu limite pra não enlouquecer.
Achei que dessa vez seria fácil me deixar levar por entre esses sonhos, ser feliz nesses instantes em que absolutamente tudo é coerente. Mas, para a minha surpresa, eu não consigo. Não sei nos ver realizando os nossos planos, não consigo imaginar a nossa ponte inabalável por anos e anos, não sou nem capaz de criar mais um dia de fazer nada com você. Se tento, me imagino chorando, te vejo me magoando, me deixando, saindo, indo. Me pergunto se isso é pessimismo, realismo, abismo, medo, sei lá o quê. 
Só sei que essa incerteza, essa inquietação, essa  falta, me levam a continuar, cada vez mais. Eu devo ser bem louca, só pode, mas por mim tudo bem. Esse protesto que acontece dentro de mim todos os dias por querer você tão desesperadamente e não ter uma esperança sequer pra se apoiar. Se enfurece e deseja com mais força te derrubar, te deixar fora de si. Assim como eu fiquei. Assim como cá estou.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Por fora eu faço cara de tédio, mas por dentro observo tudo atentamente: analiso, às vezes aplaudo de pé, me emociono, gargalho. Vez ou outra escapa por uma frestinha uma dessas emoções. Mas, na maioria das vezes, vivencio tudo comigo mesma. Somos cúmplices dos segredos do mundo e das minhas ideias.
Se por fora eu assisto à uma aula, séria, com o rosto irredutível, e no fim saio com os olhos grudados no chão e nenhuma palavra, por dentro eu sorrio com ternura, abraço com admiração e agradeço com euforia.
Em alguns momentos os sentimentos congestionados me sufocam e eu tenho que soltá-los de alguma forma. Escrita é a saída quase sempre. E guardo pra mim, ou divido.
Tenho um problema sério no departamento de expressão de sentimentos. Engasgo quando possuo um bilhão de coisas na cabeça.
E se desafogo me atropelo, erro, tropeço nas palavras.
Cartas, sorrisos, olhares, bilhetes, esporadicamente acontece. Chega com sucesso até o destinatário. O alívio é certo. É como sair do fundo do rio e chegar à margem retomando o fôlego. Sensação de dever cumprido.
É pena ser um evento tão raro.
Corriqueiro mesmo é passar reto. Hesitar tanto até perder a chance. Optar pelo silêncio enquanto um vendaval de coisas me ocorre. Me esconder.





...
Com você, fluiu tão naturalmente. O sentimento não pode ser barrado e transbordou. Não me pediu licença, nem forçou. Saiu, e te disse o bem-estar que me invadia naquele momento. A intensidade me venceu.
Doce derrota.



domingo, 17 de março de 2013

Descrever a dor faz ela doer ainda mais.
Te conheço tão bem, tão profundamente... De uma forma que suponho que você não imaginaria nem em um milhão de anos. E que ninguém mais conhece, eu sei que não. Sua fantasia, usada todos os dias religiosamente, engana bem a todos os outros que estão à sua volta. Mas eu aprendi, sem querer e perceber, a te olhar através da encenação. E sei de tudo, permaneço calada, por não saber o que fazer. Sei de você mas não te entendo. E é essa a minha angústia. Queria poder te ajudar, porém tenho um medo absurdo de tocar em feridas que se encontram adormecidas. E nessa de saber e não saber lidar vou assistindo à tudo e ficando cada vez mais perto e longe ao mesmo tempo. Como um fã que sabe tudo do ídolo mas nunca esteve frente a frente com ele. Te conheço mas não te vejo. Quer dizer, só o espetáculo, aquilo que aparenta, mas não é. Você me faz suspirar. Um suspiro longo de cansaço e tristeza. Tentar chegar até você me parece tão complicado e tão distante que a hesitação é inevitável. E lá se vão anos na tortura de pensar se devo ou não pisar nesse terreno. Me mantenho presa à essa história porque sinto que talvez seja esse o meu papel. Quem é que sabe?
Eu só preciso descobrir um meio de chegar até você. Compreender seus motivos. Sem me esgotar, sem te perder ou te machucar demais. Tomara que um dia eu consiga.

terça-feira, 12 de março de 2013

Você me fez ver a vida com os olhos da pele
Sentindo cada sopro de manhã como se fosse inteiro
E tudo tomou mais forma e as formas ganharam mais cores
Toda a intensidade de não dizer nada
Te derrubo com uma frase e você me entorpece com a ponta dos dedos
Tenho medo de me perder de tanto te olhar, como se cada pedaço do meu corpo fosse se prender ao seu
Todos os sons exteriores de tornam inaudíveis, sua voz me invadiu o organismo
E ecoa pela minha cabeça num tempo lento que me faz querer dormir instantaneamente
Quando estou com você não sei se estou acordada, se estou inteira, não sei onde estou
Agora tudo aqui é música e verso, você poetizou meus sentidos.
E eu simplesmente não preciso de reservas
Quero me afogar em seus traços até que não possa mais ver a superfície.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Dança


Encontrar com você é como dançar no escuro. E eu não sei nada sobre esses passos. Tento tateá-los mas fui pega de surpresa pelo seu ritmo. Parei pra observar com o corpo. As sensações me levam pra todos os cantos do salão, flutuando precisamente. Acompanho seus olhos que são profundos e ao mesmo tempo leves. Eu nunca sei onde por os meus. Se eles se encontram, não sabem se dançam ou se param. Os seus provocam os meus, zombam da minha falta de ginga. Sua seriedade fingida são como um sopro quente na base do meu pescoço. Você se diverte e eu me derreto. Um sorriso que me tritura a calma. Seus abraços me esmagam de ternura. Mas eu não sei nada sobre os passos e o espaço que existe. Seus cabelos rodopiam com a facilidade que eu me embaraço neles. Eu até achei que poderia te acompanhar. Mas nessa dança eu fico bamba e zonza antes mesmo de tentar.
Eu não faço questão de ser nada além do que sou.
Naturalmente fora de compasso.

terça-feira, 5 de março de 2013

Assim que eu me sentei na cama, senti uma pontada de dor no peito. Estreitei os olhos e vi a realidade me observando como quem espera por isso há tempos e já está impaciente. Foi como acordar de um coma, estava completamente hipnotizada. E, de repente, um choque. O enjoo e a sensação de que a minha vida era um imenso navio vieram implacáveis. Estava tão zonza que não pude me levantar.
Então, é isso.
Uma avalanche de perguntas e dúvidas gritando dentro de mim. Queriam respostas pelo tempo que fiquei fora do ar. E a indignação de saber que agora vinha a parte insuportável, o gosto amargo na boca. Eu te avisei, eu te avisei, diziam. Na verdade é uma grandessíssima mentira. O medo existiu, o receio esteve presente, mas sumiu nas primeiras frases. Ainda me pergunto como posso ser tão exageradamente enganável. Talvez seja a incapacidade de aceitar que me daria mal pela milésima vez. De qualquer forma, doeu e ainda dói. Não aconteceu nada, nem um centímetro da história foi modificado. Mas eu acordei do meu sonho impecável, sem querer. Fiquei confusa, atei infinitos nós no meu corpo e me senti traída. Me traí, outra vez. Minhas marcas físicas me desesperam, um pânico pro qual sou obrigada a olhar todos os dias.
Reavaliando tudo, toda a injustiça do enredo, e todo o mal visível que me causei, me obriguei a cavar meu âmago pra me achar por entre os escombros. Então eu me levantei antes do dia, apesar de todas as dores, e saí. Vi o céu coberto de estrelas e a beleza que existe acima de todo e qualquer caos. Senti o frio da madrugada acolhedora e acompanhei o nascer de mais um dia, pouco a pouco, bem devagar. Uma variedade infinita de tons de azul, indo do mais escuro ao mais claro. O sol surgindo até brilhar nas janelas dos prédios, fazendo doer os olhos. A lua parece lamentar ter que se retirar e fica o máximo que pode. O vento da manhã é como a brisa que vem do mar. É como se a falta de agitação tornasse possível a chegada dele até a metrópole. Vendo o dia nascer, a cidade acordar, e as vidas se espreguiçando no amanhecer eu esqueci tudo aquilo que me pesava. Essa paz do começo da rotina me proporcionou o encontro do meu lar interno. Onde eu entro, sento, me recupero, choro, reflito, me levanto, saio, e encaro tudo outra vez. Tendo a plena consciência de que vou ter sempre aquele lugar em mim onde posso me apoiar. E que apesar de errar muito e me decepcionar, eu continuo sendo a minha melhor companhia.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Só por hoje

Hoje o maravilhoso azul do céu riu de mim, que acordei como a velha Beatriz. Não foi de propósito e muito menos definitivo, mas pus os pés no chão e me senti ridícula. Um choque de realidade que pende mais pro pessimismo me atingiu a boca do estômago. Foi como se a insegurança, que andava desaparecida, tivesse finalmente achado um espaço pra me invadir e dizer que estou sendo patética. De repente pensei: ''o que diabos eu estou fazendo?'', e saí de cara amarrada marchando rumo ao sol. Sol este que me cumprimentou sarcástico e perguntou se não ia admirá-lo como tenho feito diariamente. Disse que não, e continuei caminhando com firmeza. Meu eu ranzinza acordou querendo espaço, tirando as músicas bonitinhas da playlist, prendendo o meu cabelo o mais alto que pode e vestindo as botas mais rígidas que encontrou. Acordei querendo varrer tudo aquilo do pensamento, pra encontrar de novo a minha concentração e o foco no que deixei de lado.
Não consegui, é claro, mas foi bom pra respirar. Me livrei do tédio e finalmente minha cabeça pode trabalhar com os meus cálculos e números sem voar pra longe nenhuma vez. Hoje a Beatriz prática, chata, objetiva, fria, impaciente e irritada tomou as rédeas. Confesso que estava com saudade. Ficar neste estado suspenso de felicidade e distração dá muito trabalho. Mas enfim, foi só por hoje. Amanhã eu já não garanto não estar coberta de florais, cantarolando e elogiando o verde das folhas das árvores...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Pensamento ll

Fez um calor infernal e lá estava você de blusa com mangas três-quartos, calça jeans e tênis. Sei que já está ficando repetitivo reclamar da sua roupa, mas você também não coopera. Aí eu te pergunto "onde anda com a cabeça?'' e você responde que não sabe, ensaiando falar sem parecer imbecil, porém o sorriso escancarado deixa claro. Neste sol você saiu com a roupa errada, de novo, e no caminho lembrou-se de me perguntar por que tanta burrice.
Nem olhe pra mim, isso é tudo culpa sua.
E o amor não chegou batendo na porta com socos e pontapés, como se imaginava. Sem escândalo, sem aviso, sem cerimônia. Não fez barulho algum, esperto que é. Talvez não quisesse me assustar. Colocou sua mão de leve e foi empurrando a barreira, vindo de mansinho, com passos curtos porém ritmados e silenciosos, até não sobrar mais nada. Quando vi ele já estava aqui. Visita inesperada! Mas a essa hora...
Olhei pra ele e pensei: e agora? Ele me respondeu que tudo o que tenho que fazer é não fazer nada. Tudo bem, eu é que não me atrevo a dizer o contrário. Até porque, com ele não se discute, você sabe.

Pela janela

Três ônibus. Coletividade. Lado a lado.
Um levava da cidadezinha à capital. Bancos desconfortáveis, sol batendo inoportuno na janela, transformando o retangular móvel num forno particular. Gente, gente por todos os lados se amontoando. Caras amarradas com o nó da rotina. Poucos sorrisos espalhados pelo vento que entrava da janela. Trabalhadores e estudantes lutando por um espaço: No mundo, em pé entre os canos, nos assentos. Sonhos, gás, apatia, conformismo, cansaço, ânimo, falta, motivação, balançando aos solavancos pela rua castigada de buracos.
Pela janela.
Ao lado, um imponente ônibus executivo de viagem que trazia na lateral as letras de sua arrogante superioridade: ''ar condicionado'', ''wi-fi'', dizia, exibicionista. Em seu interior pessoas do alto de sua elegância, sérias, compenetradas, empenhadas em não perder a conferência. Olhos amarrados no relógio, sorrisos congelados pelo frio artificial. Os movimentos são suaves e os corpos se entediam. Eletrônicos nas mãos. O sol não entra, há uma barreira escura na janela.
Pela janela.
Em seguida, um sofrido transporte de presidiários. Sua carcaça velha grita o descaso. A ferrugem corrói por dentro e por fora. A poeira já se encontra impregnada. No interior, homens e suas marcas. Suor, vingança, tristeza, saudade, desespero. O sol que vem parece diferente, o vento é abafado. O mundo não mudou, ainda há vida. O balanço é pouco sentido. Há o vislumbre das árvores porém os pés não tocam a terra. Corpo febril, ódio, arrependimento. Será que vale a pena olhar?
Pela janela.
Os três lado a lado. Suas janelas quase se encostam mas não se misturam.
O mundo é tão móvel. Nessas mudanças da vida as coisas se embaralham .
Trabalhadores e estudantes na cadeia, arrogância do dia-a-dia e a prisão da alma em meio ao luxo.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Fica comigo. Por uma semana, o resto da vida, ou uma noite. Só senta do meu lado pra gente ver aquele canal que você gosta e discutir pra onde vamos viajar. Põe a sua mão na minha, não fala nada. Vamos rir da cara um do outro, rir de doer a barriga. Juntos, sem parar pra tomar fôlego. Vem me divertir, me descobrir, me cobrir de olhares. Deixa eu te ver sendo bobo, fazendo gentilezas. Me proteja como você sempre faz. Traz nossas metas pra gente realizar. Sonharemos outras. Me explica por que tô me sentindo assim. Me mostra de novo como eu fico eufórica ao te ver. E fica. Até você cansar de mim. Até eu te prender de vez. Até os dias se acabarem. Pra eu não sentir mais essa sua falta. Não vai mais embora, não.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Pensamento

Saio de casa. Fecho o portão atrás de mim. Desço a rua.

Mas que droga eu nunca fui tão relaxada pra me vestir. Por que não me arrumei mais? Jeans, camiseta e tênis, francamente. Só uso isso, também. E essa bolsa batendo na minha perna sem parar? Saco. Que dia lindo, que calor. Por que raios eu vim de calça? Por que não uma saia? Aonde eu tava com a cabeça? Estou quase sem maquiagem e não lavei o cabelo. Desleixo! Minha mãe tem razão, sempre teve. Sou largada demais. Com tantos vestidos no guarda-roupa, tenha dó. Será que vai chover? É claro que vai chover. Será que ele já está lá? Deve estar, tô atrasada. Droga. E se não estiver? Pois é, e se ele não estiver?
Deixa eu ver, hmmm... Tá sim. Olha ele ali, no banco. Devia ter me arrumado direito, mas que droga!
Ele me viu, tá sorrindo. Que sorriso bonito. Como é que eu vou cumprimentá-lo? Ai-meu-senhor! Será que eu dev...

Beijo.

- Oi.

Sorriso.

- Oi.

Silêncio. Calma. Paz.
Meu pensamento se apaixonou e, aleluia, finalmente calou a boca.

Eu e minhas obviedades

Sou tão óbvia que me irrito fácil, fácil, com o meu comportamento. Me movimento na cadeira sem parar, balançando as pernas num ritmo frenético como se fosse dar a partida e nunca mais voltar. Pelo contrário, não saio de onde estou, sempre girando em meu próprio eixo. Mas a cabeça... voa tão longe que demora horas pra regressar ao corpo. Sou tão óbvia em meus passos, nos caminhos que escolho, sempre andando do mesmo lado da calçada. Deixo transparecer tão fácil... Basta um piscar de olhos e lá estou entregando com um floreio o que um dia jurei proteger. Nunca tive medo. Pra isso, não. O que inclusive é bem engraçado. E não faço por mal, veja bem. É que não tenho controle. E pra quê ter, eu me pergunto, pra quê ter? A vida é um espacinho tão apertado, que quando a gente assusta já passou. Vou me conter pra quê? Pra evitar o quê? Querendo ou não, vou cair, ralar os cotovelos, chorar baixinho de madrugada. Dando certo ou não. Sendo assim continuarei sendo ridiculamente óbvia, sem reservas. Me denunciando o tempo todo, deixando escapar os meus sussurros. Tamborilando os dedos na mesa sem parar, sentindo o comichão de ser eu. Assim, bem irreparavelmente óbvia.

domingo, 27 de janeiro de 2013





''Essa canção não é a mais bonita mas é sua.
Melhor que duas que não são..."


Valsa Binária - A Mais Bonita.



Tem pessoas que são incríveis. Tem outras que são um bando de colagens de pessoas incríveis e alguns restinhos de ser. Não entendo, juro por Deus que não. É muito melhor ser um gritinho no mundo, mas um gritinho único e especial, do que um berro estrondoso com um discurso copiado de alguém.

Tenta ser você. As pessoas vão gostar muito mais, viu? E se não gostarem, pelo menos no fim do dia sua cabeça vai estar tranquila.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Você é como uma música do Jack Johnson, gostosa de ouvir. Do tipo que dá paz e uma vontade imensa de fechar os olhos pra mergulhar na melodia. Uma felicidade daquelas mais simples, o sabor de um chá de camomila num dia frio. As felicidades mais simples são as melhores. Estar com você é como ter música e fones de ouvido numa viagem que seria chata. Tudo se transforma de acordo com a batida. Apenas ficar do seu lado me aquieta. Me sinto em casa. Na minha cama com um cobertor quentinho, lendo um gibi, pra ser mais precisa. E eu não busquei isso, apenas senti que era assim. Ter você comigo é como estar sentada de frente pro mar. Engraçado, você sempre me lembra o mar. Deve ser a ligação de bem-estar que você e o mar me trazem. Seus olhos tem ondas imensas, que eu gosto de ver até onde vão. Somos duas crianças maravilhadas por achar alguém tão parecido. E parece que eu já te esperava há tempos! Mas não é nada sério, não existe pretensão. Essa é a melhor parte. Nossos planos são altos mas nossas expectativas não alcançam um banquinho. Se você estivesse do meu lado pro resto da vida até que ia ser bem bom. Mas se não der, sei lá né... A gente se vê por aí.

domingo, 20 de janeiro de 2013

E assim, sem aviso nenhum, tudo que era complicado demais pra minha pobre cabeça ficou claro. O enigma se abriu como uma flor de um amarelo vivo. Desde sempre as coisas tem sido vagas no quesito sentimentos. Nunca tive certeza de nada, nadinha. Ás vezes duvidava se era eu mesma, refletida naquele espelho embaçado. Ora uma cara abatida, ora uma esperançosa, pra logo se abater de novo. Era dolorido, achar que sentia e depois sair pegando os pedaços. Meus, ou dos outros. Doía e demorava pra sarar. E como demorava...
Paranoica que sou, já estava procurando soluções pra um problema inexistente. Mas agora eu vi, dessa brecha que se abriu no estio, como é bonito o que tem do outro lado. Não há erro, nem problema, não há defeito de fabricação. Era só questão de tempo, paciência.
Agora soa tão fácil que parece até brincadeira de roda. Eu me senti segura, feliz, completa pela primeira vez.  Sem lágrimas, sem implorar, sem ferir. Não mudei de ideia, não olhei torto, não desisti. Meu coração dançou a valsa, olhei surpresa, aprendi os passos e agora já sei de cor.
Me concede a honra de ser meu par?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013




Foi tudo tão de repente. Nem deu tempo de perceber que me sentiria assim sem você.



Meu sonho é que meus filhos aproveitem a infância...

como eu aproveitei.
Tive a sorte, o presente divino, de ter primos mais novos na família. Isso alongou minha infância ao máximo.
Quantas tardes de sol e quantos banhos de chuva! Futebol de arrancar a tampa do dedo mindinho e vôlei de pontos infinitos. A alegria sublime de armar a piscina quadrada no quintal com dois dedos de água dentro. As invenções, as histórias, as descobertas.
Fiz música pra uma joaninha, caí de bicicleta, skate, patins e muro alto. Recebi e dei apelidos sem ter noção do que viria a ser bullyng. Usei a imaginação sem dó, piedade ou moderação. Fui chefe de um clubinho! Meu orgulho infantil! E fui escoteira também, a experiência que fez quem eu sou. Que me mostrou a natureza e os animais. Me deu as lembranças mais bonitas.
Eu fui criança, plenamente. Pé no chão, navio pirata de papelão, bananas de pijamas. Acompanhei o ritmo dos meus primos mais novos. Enquanto todas as outras meninas arrumavam namoradinhos, eu juntava dinheiro pra descolar uma beyblade menos destruída que a minha.
Ganhei brinquedo de dia das crianças até os 15.
E, olha, não há sensação melhor do que a de olhar pra trás e ver que nunca quis crescer logo. Sempre achei que ser criança é a coisa mais legal e certa a se fazer quando se é criança. Viver cada fase em seu devido tempo é essencial. E ser um pouco criança em todas elas também.
Eu sou. Não recuso uma amarelinha, um pipa, um esconde-esconde. Acho que minha infância esqueceu de passar.
Assim que é bom. O mundo seria um lugar bem mais bacana se todos tivessem dentro de si a beleza da criança que foi um dia.

Não gostou do meu texto? Tô fazendo careta pra você! :P

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vi um dia ensolarado em você.

É, foi isso que vi. Não sei ver tempo nas pessoas, mas curiosamente, em você eu vejo. Só de imaginar posso sentir o cheiro da grama verdinha e ouvir as asas dos pássaros batendo. A brisa fresca e a maciez de um sorriso. Será que eu tô maluca? Em meio a todo esse vazio, essa alegria de lembrar algo que não existiu. Acho tão bonito e ao mesmo tempo tão desconexo. Não quero deixar de sentir esse sol que você tem, não quero estragar tudo. Mas tem coisas - a maioria delas - que estão fora do meu alcance. Talvez você seja um quadro bonito na parede de outro alguém. E eu aqui, sonhando com a sua paisagem. Fantasiando sensações de algo que vi sem ser vista. Fotografei furtivamente a imagem com os olhos e agora posso sentir, ouvir e me aquecer com essa luz. Será que um dia eu consigo questionar se você vê algo, sol, nuvem carregada, em mim? Ou só vou ficar te olhando pela janela, na ponta dos pés, procurando parecer irrelevante? Não sei como é que os outros que passam podem ignorar as suas cores. Sou só eu quem as vê? Acho que eu tô maluca.
Às vezes olho pra mim e vejo um amontoado de pedaços. A junção de toda a maravilha e tranqueira que já se passou comigo. Você pode até me dizer que o resultado é bacana. Mas sei lá, não boto fé.

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