domingo, 14 de julho de 2013

Gota d'água

Ele pisou duro no chão, prometendo a si mesmo nunca mais voltar aquele lugar. Seus passos eram tão difíceis de ser dados, que era como se carregasse chumbo: O peso da amargura.
Anos e anos de decepções agora eram digeridos da pior forma.
Caminhou como numa marcha fúnebre, rumo a um hotel qualquer do centro daquela cidade suja. Todo o cenário era por ele ignorado. As pessoas ao redor não passavam de borrões distorcidos.
Ao chegar no quarto, olhou-se no espelho. As pálpebras pesadas caíam, como se implorassem para se fechar de uma vez por todas. Os cabelos já não faziam questão de se manter organizados. Eram pincelados pelo branco que sinalizava todas as estações que viu passar.
Todos que haviam o ferido estavam presentes nele. Em cada uma daquelas rugas.
Lavou o rosto com raiva, como que para expulsá-los. Queria que suas marcas fossem apenas obra do tempo e não reflexo de dor. Porém não era possível.
Colocou na mala cada 'não' que já havia ouvido e todas as vezes que o fizeram de otário.
Não chorou, não mais.
Ergueu a cabeça, ciente de que aquele ponto final era definitivo.
Sem retorno, não desta vez.
Deixou o hotel com andar decidido. Foi até a sua antiga casa.
Viu nas paredes manchadas tudo o que fazia força para esquecer. Corredores inundados por antigas mágoas, maçanetas que ainda esperavam por alguém que não viria.
Perambulou pelos cômodos vazios pela última vez, e saiu.

Enterrou no quintal, a sete palmos do orgulho, tudo o que um dia foi capaz de amar.

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