quinta-feira, 28 de março de 2013

Não consigo imaginar a gente dando certo

Sempre deixei a minha imaginação fazer o que quisesse, fazer estragos, instalar o caos dentro de mim. Me atirava em fantasias por dias inteiros, eu nunca tive medo, sabia sair. Já me machuquei bastante nessa brincadeira de inventar por dentro até sentir como se estivesse vivendo. Quando ia mais fundo, abrir os olhos pro presente me dava um choque. Mas de alguma forma eu retomava a consciência, meu limite pra não enlouquecer.
Achei que dessa vez seria fácil me deixar levar por entre esses sonhos, ser feliz nesses instantes em que absolutamente tudo é coerente. Mas, para a minha surpresa, eu não consigo. Não sei nos ver realizando os nossos planos, não consigo imaginar a nossa ponte inabalável por anos e anos, não sou nem capaz de criar mais um dia de fazer nada com você. Se tento, me imagino chorando, te vejo me magoando, me deixando, saindo, indo. Me pergunto se isso é pessimismo, realismo, abismo, medo, sei lá o quê. 
Só sei que essa incerteza, essa inquietação, essa  falta, me levam a continuar, cada vez mais. Eu devo ser bem louca, só pode, mas por mim tudo bem. Esse protesto que acontece dentro de mim todos os dias por querer você tão desesperadamente e não ter uma esperança sequer pra se apoiar. Se enfurece e deseja com mais força te derrubar, te deixar fora de si. Assim como eu fiquei. Assim como cá estou.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Por fora eu faço cara de tédio, mas por dentro observo tudo atentamente: analiso, às vezes aplaudo de pé, me emociono, gargalho. Vez ou outra escapa por uma frestinha uma dessas emoções. Mas, na maioria das vezes, vivencio tudo comigo mesma. Somos cúmplices dos segredos do mundo e das minhas ideias.
Se por fora eu assisto à uma aula, séria, com o rosto irredutível, e no fim saio com os olhos grudados no chão e nenhuma palavra, por dentro eu sorrio com ternura, abraço com admiração e agradeço com euforia.
Em alguns momentos os sentimentos congestionados me sufocam e eu tenho que soltá-los de alguma forma. Escrita é a saída quase sempre. E guardo pra mim, ou divido.
Tenho um problema sério no departamento de expressão de sentimentos. Engasgo quando possuo um bilhão de coisas na cabeça.
E se desafogo me atropelo, erro, tropeço nas palavras.
Cartas, sorrisos, olhares, bilhetes, esporadicamente acontece. Chega com sucesso até o destinatário. O alívio é certo. É como sair do fundo do rio e chegar à margem retomando o fôlego. Sensação de dever cumprido.
É pena ser um evento tão raro.
Corriqueiro mesmo é passar reto. Hesitar tanto até perder a chance. Optar pelo silêncio enquanto um vendaval de coisas me ocorre. Me esconder.





...
Com você, fluiu tão naturalmente. O sentimento não pode ser barrado e transbordou. Não me pediu licença, nem forçou. Saiu, e te disse o bem-estar que me invadia naquele momento. A intensidade me venceu.
Doce derrota.



domingo, 17 de março de 2013

Descrever a dor faz ela doer ainda mais.
Te conheço tão bem, tão profundamente... De uma forma que suponho que você não imaginaria nem em um milhão de anos. E que ninguém mais conhece, eu sei que não. Sua fantasia, usada todos os dias religiosamente, engana bem a todos os outros que estão à sua volta. Mas eu aprendi, sem querer e perceber, a te olhar através da encenação. E sei de tudo, permaneço calada, por não saber o que fazer. Sei de você mas não te entendo. E é essa a minha angústia. Queria poder te ajudar, porém tenho um medo absurdo de tocar em feridas que se encontram adormecidas. E nessa de saber e não saber lidar vou assistindo à tudo e ficando cada vez mais perto e longe ao mesmo tempo. Como um fã que sabe tudo do ídolo mas nunca esteve frente a frente com ele. Te conheço mas não te vejo. Quer dizer, só o espetáculo, aquilo que aparenta, mas não é. Você me faz suspirar. Um suspiro longo de cansaço e tristeza. Tentar chegar até você me parece tão complicado e tão distante que a hesitação é inevitável. E lá se vão anos na tortura de pensar se devo ou não pisar nesse terreno. Me mantenho presa à essa história porque sinto que talvez seja esse o meu papel. Quem é que sabe?
Eu só preciso descobrir um meio de chegar até você. Compreender seus motivos. Sem me esgotar, sem te perder ou te machucar demais. Tomara que um dia eu consiga.

terça-feira, 12 de março de 2013

Você me fez ver a vida com os olhos da pele
Sentindo cada sopro de manhã como se fosse inteiro
E tudo tomou mais forma e as formas ganharam mais cores
Toda a intensidade de não dizer nada
Te derrubo com uma frase e você me entorpece com a ponta dos dedos
Tenho medo de me perder de tanto te olhar, como se cada pedaço do meu corpo fosse se prender ao seu
Todos os sons exteriores de tornam inaudíveis, sua voz me invadiu o organismo
E ecoa pela minha cabeça num tempo lento que me faz querer dormir instantaneamente
Quando estou com você não sei se estou acordada, se estou inteira, não sei onde estou
Agora tudo aqui é música e verso, você poetizou meus sentidos.
E eu simplesmente não preciso de reservas
Quero me afogar em seus traços até que não possa mais ver a superfície.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Dança


Encontrar com você é como dançar no escuro. E eu não sei nada sobre esses passos. Tento tateá-los mas fui pega de surpresa pelo seu ritmo. Parei pra observar com o corpo. As sensações me levam pra todos os cantos do salão, flutuando precisamente. Acompanho seus olhos que são profundos e ao mesmo tempo leves. Eu nunca sei onde por os meus. Se eles se encontram, não sabem se dançam ou se param. Os seus provocam os meus, zombam da minha falta de ginga. Sua seriedade fingida são como um sopro quente na base do meu pescoço. Você se diverte e eu me derreto. Um sorriso que me tritura a calma. Seus abraços me esmagam de ternura. Mas eu não sei nada sobre os passos e o espaço que existe. Seus cabelos rodopiam com a facilidade que eu me embaraço neles. Eu até achei que poderia te acompanhar. Mas nessa dança eu fico bamba e zonza antes mesmo de tentar.
Eu não faço questão de ser nada além do que sou.
Naturalmente fora de compasso.

terça-feira, 5 de março de 2013

Assim que eu me sentei na cama, senti uma pontada de dor no peito. Estreitei os olhos e vi a realidade me observando como quem espera por isso há tempos e já está impaciente. Foi como acordar de um coma, estava completamente hipnotizada. E, de repente, um choque. O enjoo e a sensação de que a minha vida era um imenso navio vieram implacáveis. Estava tão zonza que não pude me levantar.
Então, é isso.
Uma avalanche de perguntas e dúvidas gritando dentro de mim. Queriam respostas pelo tempo que fiquei fora do ar. E a indignação de saber que agora vinha a parte insuportável, o gosto amargo na boca. Eu te avisei, eu te avisei, diziam. Na verdade é uma grandessíssima mentira. O medo existiu, o receio esteve presente, mas sumiu nas primeiras frases. Ainda me pergunto como posso ser tão exageradamente enganável. Talvez seja a incapacidade de aceitar que me daria mal pela milésima vez. De qualquer forma, doeu e ainda dói. Não aconteceu nada, nem um centímetro da história foi modificado. Mas eu acordei do meu sonho impecável, sem querer. Fiquei confusa, atei infinitos nós no meu corpo e me senti traída. Me traí, outra vez. Minhas marcas físicas me desesperam, um pânico pro qual sou obrigada a olhar todos os dias.
Reavaliando tudo, toda a injustiça do enredo, e todo o mal visível que me causei, me obriguei a cavar meu âmago pra me achar por entre os escombros. Então eu me levantei antes do dia, apesar de todas as dores, e saí. Vi o céu coberto de estrelas e a beleza que existe acima de todo e qualquer caos. Senti o frio da madrugada acolhedora e acompanhei o nascer de mais um dia, pouco a pouco, bem devagar. Uma variedade infinita de tons de azul, indo do mais escuro ao mais claro. O sol surgindo até brilhar nas janelas dos prédios, fazendo doer os olhos. A lua parece lamentar ter que se retirar e fica o máximo que pode. O vento da manhã é como a brisa que vem do mar. É como se a falta de agitação tornasse possível a chegada dele até a metrópole. Vendo o dia nascer, a cidade acordar, e as vidas se espreguiçando no amanhecer eu esqueci tudo aquilo que me pesava. Essa paz do começo da rotina me proporcionou o encontro do meu lar interno. Onde eu entro, sento, me recupero, choro, reflito, me levanto, saio, e encaro tudo outra vez. Tendo a plena consciência de que vou ter sempre aquele lugar em mim onde posso me apoiar. E que apesar de errar muito e me decepcionar, eu continuo sendo a minha melhor companhia.

Seguidores