sábado, 9 de maio de 2015

Eu sei que é você


Uma borboleta azul, branca e preta caiu acidentada no meu quintal. Depois de aventuras e fortes emoções foi resgatada. Se abriu como uma flor e repousou na cadeira para descansar e se recuperar. Pude notar sua asa ferida, suspeitei que estivesse morta. Encarei-a por alguns segundos e ela bateu as asas para mim como se dissesse "estou bem". Sorri e a deixei em paz.
Depois de um longo período ela se levantou da cadeira e pousou no batente da porta, foi subindo devagar, decorando os riscos da madeira, conhecendo a casa. No fim da noite ela sumiu.
Saí de casa no dia seguinte e, quando voltei, lá estava ela na garagem. Provavelmente tentou ir embora mas não conseguiu. Mais um dia se passou e ela continua no mesmo lugar.

Seus olhos agora nada miram com certeza. Seu olhar é vago, transita entre o ontem e o agora. Você nos deu vários motivos para acreditar que aquela seria a última vez que a veríamos, no entanto, por alguma razão, nunca era.
Essa é a primeira vez que seu corpo não reluta mais. Que suas mãos não buscam a margem. Você permitiu que sua audição diminuísse, que se afastasse do mundo.
Agora vê seus antepassados mais perto, sente que ainda tem algo a resolver, mas está a cada dia menos teimosa. Seu coração começa a se acalmar e entrar em sintonia.
Eu sou a única com quem você ainda conversa. Sou o fio que te liga a este lado, sua conexão com suas preocupações e seu afeto.
Iremos, juntas e delicadamente, afrouxar nosso laço até que desate, por hora, e você possa sentir que pode adormecer.
Te levarei por onde eu andar.
Atenta às borboletas que você disse que seria.
Espero em paz o seu momento de alçar vôo.

E quando eu chorar será só saudade.



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