Assim que eu me sentei na cama, senti uma pontada de dor no peito. Estreitei os olhos e vi a realidade me observando como quem espera por isso há tempos e já está impaciente. Foi como acordar de um coma, estava completamente hipnotizada. E, de repente, um choque. O enjoo e a sensação de que a minha vida era um imenso navio vieram implacáveis. Estava tão zonza que não pude me levantar.
Então, é isso.
Uma avalanche de perguntas e dúvidas gritando dentro de mim. Queriam respostas pelo tempo que fiquei fora do ar. E a indignação de saber que agora vinha a parte insuportável, o gosto amargo na boca. Eu te avisei, eu te avisei, diziam. Na verdade é uma grandessíssima mentira. O medo existiu, o receio esteve presente, mas sumiu nas primeiras frases. Ainda me pergunto como posso ser tão exageradamente enganável. Talvez seja a incapacidade de aceitar que me daria mal pela milésima vez. De qualquer forma, doeu e ainda dói. Não aconteceu nada, nem um centímetro da história foi modificado. Mas eu acordei do meu sonho impecável, sem querer. Fiquei confusa, atei infinitos nós no meu corpo e me senti traída. Me traí, outra vez. Minhas marcas físicas me desesperam, um pânico pro qual sou obrigada a olhar todos os dias.
Reavaliando tudo, toda a injustiça do enredo, e todo o mal visível que me causei, me obriguei a cavar meu âmago pra me achar por entre os escombros. Então eu me levantei antes do dia, apesar de todas as dores, e saí. Vi o céu coberto de estrelas e a beleza que existe acima de todo e qualquer caos. Senti o frio da madrugada acolhedora e acompanhei o nascer de mais um dia, pouco a pouco, bem devagar. Uma variedade infinita de tons de azul, indo do mais escuro ao mais claro. O sol surgindo até brilhar nas janelas dos prédios, fazendo doer os olhos. A lua parece lamentar ter que se retirar e fica o máximo que pode. O vento da manhã é como a brisa que vem do mar. É como se a falta de agitação tornasse possível a chegada dele até a metrópole. Vendo o dia nascer, a cidade acordar, e as vidas se espreguiçando no amanhecer eu esqueci tudo aquilo que me pesava. Essa paz do começo da rotina me proporcionou o encontro do meu lar interno. Onde eu entro, sento, me recupero, choro, reflito, me levanto, saio, e encaro tudo outra vez. Tendo a plena consciência de que vou ter sempre aquele lugar em mim onde posso me apoiar. E que apesar de errar muito e me decepcionar, eu continuo sendo a minha melhor companhia.
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