segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Deus

Quando eu era criança, minha avó me ensinou a não tolerar a imperfeição. Não sei se era exatamente essa a sua intenção, mas dentro da minha cabeça se firmou como mandamento: não errarás.
Isso, consequentemente, me levou ao seu antônimo. Aprendi a me esfolar, ao preço que fosse, em busca da perfeição. Seu significado, sua ira impetuosa, suas conjunções e desafios.
Nós duas, eu e minha avó, sofremos as dores de não sermos perfeitas. Ouvimos as cobranças, sentimos o peso de perseguir algo inalcançável sem, no entanto, questionar.
Não sei precisar se isto é um ataque a si mesmo, ou um mecanismo de defesa duvidoso porém inesperadamente eficaz. Talvez um pouco dos dois, para mim mais o segundo.
As pessoas desenham as coisas a seu modo, refazendo freneticamente o mundo com as cores que são capazes de lidar.
E então num Ser maior que si, muito maior, imputam suas maiores tragédias íntimas, insanidades ocultas e distorções de caráter.
Deus vem para salvar, castigar, mandar, zelar, até mesmo açoitar o mundo com raios. Cheio de ritos, controvérsias, incongruências, mal entendidos, soberania.
Raramente em nome da paz.
Estranho.
São dias tão imperfeitos, tempos tão nefastos, que uma de nós já sucumbiu e a outra está, mais uma vez, por um fio.
Continuamos nos agarrando ao nosso Deus, embora não nos permitam e nos julguem indignas de sua benevolência. Subvertemos. É patético.
Além do mais, estive pensando, pintar Deus como um ser que pune quem não O adora é dizer que Ele, contraditoriamente, é tão frágil quanto nós.
Pois acredito sermos tão falíveis justamente por não acreditarmos em nós mesmos. Por colocarmos a opinião de uma plateia voraz sempre antes e acima de tudo.
E punir quem não nos ama.
Quem não concorda com nossas ideias insanas de mundo.
De Deus.
Do que é ser feliz.
De perfeição.


Que o pedaço escuro do percurso seja breve.
Amém. 

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