segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Pela janela

Três ônibus. Coletividade. Lado a lado.
Um levava da cidadezinha à capital. Bancos desconfortáveis, sol batendo inoportuno na janela, transformando o retangular móvel num forno particular. Gente, gente por todos os lados se amontoando. Caras amarradas com o nó da rotina. Poucos sorrisos espalhados pelo vento que entrava da janela. Trabalhadores e estudantes lutando por um espaço: No mundo, em pé entre os canos, nos assentos. Sonhos, gás, apatia, conformismo, cansaço, ânimo, falta, motivação, balançando aos solavancos pela rua castigada de buracos.
Pela janela.
Ao lado, um imponente ônibus executivo de viagem que trazia na lateral as letras de sua arrogante superioridade: ''ar condicionado'', ''wi-fi'', dizia, exibicionista. Em seu interior pessoas do alto de sua elegância, sérias, compenetradas, empenhadas em não perder a conferência. Olhos amarrados no relógio, sorrisos congelados pelo frio artificial. Os movimentos são suaves e os corpos se entediam. Eletrônicos nas mãos. O sol não entra, há uma barreira escura na janela.
Pela janela.
Em seguida, um sofrido transporte de presidiários. Sua carcaça velha grita o descaso. A ferrugem corrói por dentro e por fora. A poeira já se encontra impregnada. No interior, homens e suas marcas. Suor, vingança, tristeza, saudade, desespero. O sol que vem parece diferente, o vento é abafado. O mundo não mudou, ainda há vida. O balanço é pouco sentido. Há o vislumbre das árvores porém os pés não tocam a terra. Corpo febril, ódio, arrependimento. Será que vale a pena olhar?
Pela janela.
Os três lado a lado. Suas janelas quase se encostam mas não se misturam.
O mundo é tão móvel. Nessas mudanças da vida as coisas se embaralham .
Trabalhadores e estudantes na cadeia, arrogância do dia-a-dia e a prisão da alma em meio ao luxo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores