terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dentro

Das paredes escorrem amarguras
O assoalho grita abandono
Bocas murmuram, pés se arrastam
As mãos movem-se a esmo, ou amparam a cabeça já pesada
Ouve-se uma Ave-Maria esganiçada, em voz quase gritada, que é um pedido de socorro.
As árvores a tudo observam como se perguntassem "que passa à essa gente?"
O brilho verde estonteante nas folhas da copa, destoa do cinza que margeia os corpos
Nada aqui lhes pertence, a não ser a solidão
Nenhum trapo, sapato, espaço particular, rastro de indivíduo
Tudo é público, o sofrimento, coletivo.
Os gritos se misturam, as dores se assemelham
As horas rastejam acompanhando o ritmo do caminhar
Sorrisos derretidos no cansaço que estampa a face
A vontade de sair dói o peito, mas a insegurança do estar do lado de fora também é imensa e dolorida.

Cá os medos humanos estão todos feito fratura exposta, ferida aberta.
Estão todos na mesma corda bamba.
Que será a lucidez e a loucura?
Essas coisas finas, delicadas, que se perdem e se encontram assim sem porquê.
O que coloca alguém um passo a frente da linha tênue onde uma começa e a outra termina?
Escancara fragilidades e em menos de um segundo, torna o ser perdido, ambulante, enfermo.

Aqui as esperanças são maltratadas e tratadas como mera ilusão. Só mais uma alucinação dentre as tantas outras que assombram e permeiam as almas confinadas.
Aqui os bons sentimentos receiam entrar.
Sobretudo porque precisam de transporte, e esse só se faz por intervenção humana.
E é difícil...

O vento que refresca também traz as lembranças de um outro tempo.
Se existiu de verdade, quem há de saber?!
Mas ainda há lembrança, os resquícios de uma vida em que muros não sufocavam e as camas não prendiam.
A água era mais fresca, as cores tinham sentido e até o sol era sentido mais acolhedor e quente.
Onde árvores admiravam a paisagem e dela eram parte, ao invés de questionar: "que passa a essa gente?".

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