sábado, 5 de março de 2011

Momento pare e reflita

O renascer dos belos sentimentos uma vez satisfeitas as necessidades básicas.¹

.Esta pungente história se passou no meio de uma selva, nas areias de um deserto, num velho navio abandonado e sem rumo, em qualquer lugar em que há dificuldades de alimentação e o homem começa a sentir a antropo ou qualquer outra fagia a lhe espicaçar o estômago.
Pois, sozinho e sem se alimentar há vários dias, o homem vinha caminhando no vasto areal (ou selva, ou etc...), seguido apenas de seu fiel cachorro. Lá para as tantas lhe deu, porém, o espicaçar acima enunciado, a fome bateu-lhe às portas da barriga: ''pan, pan, pan, ó de casa!''. Já batera antes, mas o homem tinha fingido que não ouvia. Naquele momento, porém, não resistiu mais e atendeu à fome. Matou o cachorrinho, única coisa comível num raio de quilômetros. Matou-o, assou-o num fogo improvisado e comeu-o todo, todo, com uma fome canina (perdão). Quando tinha acabado de comer o animal, sentou-se, plenamente satisfeito. E foi então que olhou em torno e começou a chorar: ''Ai, ai, ai'' - soluçou - ''pobre do Luluzinho! Como ele adoraria roer esses ossos! ''.

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MORAL: Quando eu tiver uma casa bem confortável, escreverei um trabalho de sociologia.

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(Millôr Fernandes. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991. p,68.)

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(1) ''Para se exercer as virtudes do espírito é necessário um mínimo de conforto material.'' (Santo Agostinho)

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