Quem quer ser flor de plástico pra se tornar imortal?
Deixar de ser, ver, ouvir e sentir pra viver imune à vida.
Que graça tem?
Vão-se as tristezas mas junto vai a alegria.
As dores de uma flor de pétalas e espinhos não existem, mas o brilho também não.
Todo rosto corado passa por um banho de lágrimas leitosas pra se hidratar. Sem a chuva preparatória o sorriso resseca no ardor do sol.
O beija-flor pode incomodar com carinhos roubados e inconvenientes mas quem trocaria sua beleza por um espanador de pó?
Flores de plástico acumulam poeira.
As outras se deixam voar junto com o vento.
Quem então escolheria ser flor de plástico pra ver o mundo passar da mesa de centro de uma sala vazia?
E eu respondo: muita gente.
Você certamente conhece, eu também, assim como já fui uma.
A gente acha que fugir da injeção é escapar da dor, e não percebe que assim se aproxima da doença. Troca a dor momentânea por uma maior.
Viver é a melhor maneira de aprender a viver. Encaremos a dor sentindo-a.
As flores de plástico são eternas. Porém solitárias em sua exclusiva existência que não ramificou.
Somos mortais, mas podemos dar frutos.
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